Dizemos que um cão sofre de SAS, quando ao ser
deixado por seu tutor em algum ambiente e impedido de acessá-lo, apresenta mais
comumente sinais como:
- vocalização
- destruição
- eliminação inadequada (cocô e xixi no lugar errado)
E ainda, em menor número podem apresentar:
- inatividade
- inapetência
- salivação excessiva
- hiperatividade
- comportamentos repetitivos
- distúrbios gastrointestinais
E por que isso acontece?
Para entender melhor o que é a SAS, podemos pensar
que todo animal sociável estabelece vínculos em suas relações, um deles é o
apego. O apego está relacionado a necessidade do indivíduo de se manter próximo
à alguém que vá garantir sua sobrevivência, no caso de bebês por exemplo, estar
próximo da mãe é garantia de alimentação e manutenção da segurança.
O assunto é tratado
sobre alguns conceitos como o “imprinting” (assim que nasce o animal segue a
primeira coisa que vê se movimentar, acreditando ser aquele que garantirá sua
sobrevivência, é como se houvesse uma lacuna no cérebro aguardando por essa
informação), a “teoria do apego” e o “conceito da base segura” que é aquela em que o indivíduo percebe que seu cuidador está atento às
suas necessidades e pronto para supri-las, sem no entanto, impedir que ele
desenvolva sua autonomia e sinta-se livre para explorar o ambiente que o cerca.
Mas estamos tentando entender a SAS nos cães e não nos humanos!
O relacionamento do cão com os seres humanos é análogo ao relacionamento pais-filhos e chimpanzé-humano, porque os fenômenos comportamentais observados e sua classificação são semelhantes às descritas nas interações mãe-bebê (Topál, 1998, p. 219-229)
Estudos apontam ainda que
os seres humanos formam um relacionamento de apego com seus cães, e que recorrem
a eles como um refúgio seguro, muitas vezes mais do que a qualquer outro membro
da família ou amigo.
Observando esses apontamentos, podemos entender o
tipo de relação que temos com nossos cães e como isso interfere em nossas
vidas.
Até pouco tempo, era comum relacionarmos a SAS com o
hiperapego, hoje na literatura, já há indícios de que os distúrbios estão mais relacionados
com o tipo de apego (base segura, insegura, etc) do que com sua intensidade.
Percebam que quando nos referimos a problemas
relacionados à ansiedade de separação, utilizamos os substantivos “síndrome” ou
“distúrbio”, porque no geral pela sua natureza sociável os cães sentem a ausência do tutor e experimentam
diferentes níveis de estresse, mas muitas vezes isso não afeta a qualidade de
vida deles, tampouco sua relação com a família, porém alguns indivíduos tem um
limiar mais baixo e por isso desenvolvem distúrbios relacionados a essa questão, que vão interferir nas suas relações e por
vezes podem levar ao abandono.
O que se sugere, é que além das questões genéticas,
de ontogenia (desenvolvimento) e fatores ambientais, o cão que tem uma relação
de apego seguro com seu tutor, tem menos chances de apresentar problemas relacionados
à ansiedade de separação.
Esse assunto é amplamente estudado pela literatura
científica, mesmo assim ainda há muitas perguntas sendo feitas e precisando de
novas abordagens, por enquanto o que sabemos sobre como lidar com cães que apresentam
distúrbios associados a separação é:
- Crie uma relação de confiança e segurança, seja coerente, consistente.
Nunca engane o cão para não trair sua confiança, por exemplo, não sair
escondido e dar bronca quando voltar e encontrar xixi na sua cama.
- Desenvolva atividades independentes enriquecimento ambiental
diversificado ao cão.
- Ensine o exercício do “fica” sem impedir o cão de acessá-lo, ou
seja, deixe o cão optar por ficar porque ele será recompensado, e não impedi-lo
de sair da situação caso não se sinta confortável, isso tem que decorrer de
forma natural, porque o cão gosta.
- Não se despedir dolorosamente quando for sair, tampouco fazer
de sua chegada um grande acontecimento e cuidado com os protocolos
tradicionais, alguns cães quando ignorados ficam mais ansiosos. Vocês devem buscar algum comportamento calmo
que ajude seu cão a lidar com a situação. As vezes falar um “oi” baixinho,
estabelecer contato visual, dar um breve sorriso, enfim, transmita
tranquilidade e segurança para ele.
- Crie uma rotina diversificada, mude as rotinas com frequência
pois eles são muito espertos e uma rotina mais diversificada tende a ajudar e
afastar ou minimizar os comportamentos relacionados a SAS. Quando você puder
antecipar uma mudança na rotina, sempre que possível, insira essa mudança na
vida do cão de forma gradual.
- Procure um profissional. Consultor comportamental e/ou adestrador podem
aplicar protocolos já estudados que são ótimos no auxílio ao tutor, mas lembrem-se,
não são receitas de bolo que servem para qualquer cão, há detalhes importantes
que surgem durante os treinos e que podem não ser percebidos pelo tutor, daí a
importância de um profissional.
- Busque atendimento de um veterinário comportamental que poderá validar
o diagnóstico e excluir outras possíveis causas para o problema, poderá incluir
um auxílio medicamentoso associado aos treinos.
- Atenção especial aos cães que tem fobia de barulho pois estudos
apontam que estes indivíduos são mais predispostos a desenvolver SAS.
Seja parceiro
do seu cão, ajude-o a entender que saídas e chegadas fazem parte da vida e que
você jamais irá abandoná-lo.
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